quinta-feira, 22 de julho de 2010

O JORNALISTA HEMINGWAY


O JORNALISTA E O JORNALISMO


A influência de Hemingway.

Apesar de sua irregularidade na profissão de jornalista, é inegável a sua influência e contributo, na profissão.

Traços seus podem ser notados ainda no new journalism praticado por autores como Gay Talese e Truman Capote, que utiliza técnicas literárias para dar cores e cheiro às matérias.

A fórmula do machão egocêntrico que se mete em perigos atrás de informação para suas histórias rendeu ainda outro célebre seguidor: Norman Mailer, tanto nos livros de ficção (Os nus e os mortos) quanto nos de cunho jornalístico (Os exércitos da noite). Nunca, entretanto, com o mesmo brilho do velho “Papa”.

Ernest Hemingway foi um escritor com início no jornalismo. Aliás até ao final do século XIX, era perfeitamente normal encontrar escritores ocupando as redações dos jornais. Era o caso, no Brasil, de Machado de Assis e Olavo Bilac. Na qualidade de homens de letras, eles tinham competência para assinar textos de cunho opinativo, como crônicas e críticas, e também fazer coberturas como as de Machado na Câmara, porém, mesmo essas tinham mais de opinião que de reportagem.

A figura do repórter como conhecemos hoje – alguém que corre atrás da notícia e da apuração, que suja o pé na lama em busca de boas histórias – era praticamente inexistente.

Ainda assim, é provável que nunca chegássemos a essa visão contemporânea do repórter em ação se não fosse Ernest Hemingway. O escritor, nascido em 1899 em Oak Park, no Centro-Oeste dos Estados Unidos, revolucionou a imagem do jornalista, mesmo tendo atuado, de modo efetivo, durante pouco tempo na profissão. Foi o suficiente para que eternizasse a persona do homem que se aventura até no front de guerras sangrentas para conseguir informação.

Além disso, ajudou a promover outra revolução: a da linguagem, através de seu texto simples e direto, despido de atavios, um estilo até hoje repetido e pregado por manuais de redação mundo fora.

Foi no jornalismo que Hemingway lapidou sua prosa. E bem cedo, aos 18 anos, quando se tornou repórter do jornal The Kansas City Star. Antes disso, escrevera artigos para um jornal da escola, viu que era aquilo que queria da vida e, em vez de entrar em uma universidade, escolheu o jornalismo.

Foram apenas seis meses trabalhando no Star. Tempo suficiente para transformar seu modo de escrever. Lá ele cobria os causos mais banais e corriqueiros da cidade – incêndios, brigas, assassinatos e funerais.

Como todos os funcionários do jornal, recebera um conjunto de regras que respeitaria (ou tentaria respeitar) ao longo de sua carreira: “Escreva frases curtas. Use primeiros parágrafos curtos. Use um inglês vigoroso. Seja positivo, não negativo”.

Mais tarde, em uma carta, Hemingway escreveu que seu trabalho no jornal se resumia a descobrir “quem atirou em quem. Onde? Quando? Como? Mas nunca por quê”.
E não se pode deixar de lado o Hemingway jornalista quando se pensa no ficcionista. Ele próprio fazia ligações. Disse certa vez: “Jornalismo ou não, todos os livros deviam ser a respeito de pessoas que conhecemos, amamos ou odiamos, não sobre pessoas que imaginamos. Mas alto lá! Não é suficiente ter um grande coração, uma sólida cabeça, encanto pessoal e facilidade com a máquina de escrever para saber como funciona o mundo. Eis a diferença entre ficção e jornalismo”.

Em outro momento, na histórica entrevista à revista The Paris Review, em 1954, perguntado sobre se recomendaria o trabalho jornalístico aos escritores jovens, ele voltou à questão das “sentenças informativas simples”: “Isso é útil para qualquer um. O trabalho jornalístico não prejudica o jovem escritor e pode vir a ajudá-lo se ele cair fora a tempo. O jornalismo, depois de um certo ponto, pode vir a se tornar uma autodestruição diária para um escritor sério e criativo”.


JBS

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